Entre Deus e a Máquina: A Nova Religião da Inteligência Artificial
IA, Transhumanismo e a Busca por Sentido: Reflexões a partir de John Lennox
👋Olá! Bem vindos a mais uma edição de Ética, Direito e Inteligência Artificial, por André Gualtieri!
Aqui vão algumas maneiras pelas quais eu posso te ajudar:
Board Technoethics: comunidade dedicada à análise profunda das tendências tecnológicas emergentes e seus impactos no mercado e nas organizações. O tema deste mês é: Propósito Humano na Era dos Algoritmos: Religião, Espiritualidade e IA no Mundo Corporativo
Curso de Governança de IA: ensino, na prática, como estruturar a Governança de IA em organizações
IA em Ação: 12 Casos Reais de Riscos Éticos e Jurídicos: curso gratuito sobre impactos positivos e negativos da IA em diversas áreas e na sociedade
Mentoria em Ética e Governança de IA: orientação e acompanhamento personalizados para quem quer liderar em ética e governança
Gosto muito de assistir aos vídeos de John Lennox no YouTube. Esse octogenário simpático e rechonchudo faz a interface entre religião, ciência e filosofia como nenhum outro intelectual público que eu conheça. Lennox é Professor Emérito de Matemática na Universidade de Oxford, apologista cristão, além de ter formação em bioética e ser Fellow em Filosofia da Ciência pela mesma universidade.
Lennox escreveu muitos livros sobre esses temas e participou de debates com ateus mundialmente conhecidos como Richard Dawkins e Christopher Hitchens.
Recentemente, assisti a mais um de seus os vídeos, mas desta vez o tema chamou ainda mais a minha atenção, pois trata do rápido desenvolvimento da inteligência artificial e das grandes esperanças depositadas nela pela humanidade.
Seríamos capazes de lidar adequadamente com tamanho poder que a IA nos confere? Leia o que diz o biólogo E. O. Wilson: o verdadeiro problema da humanidade é que nós temos “emoções paleolíticas, instituições medievais e tecnologia com poderes divinos”.
É fácil perceber, portanto, que o rápido desenvolvimento da IA — tanto se cumprir quanto se não cumprir todo o potencial que seus desenvolvedores pretendem — vai nos colocar cada vez mais diante das grandes perguntas filosóficas: De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?
Esses temas passarão a ser cada vez mais objeto de reflexão para nós que somos seres para os quais a questão do sentido sempre aparece.
Num artigo de 1965, o matemático Irving Good especulava sobre a máquina ultrainteligente, definida como uma máquina que possa superar de longe todas as atividades intelectuais de qualquer ser humano, por mais inteligente que ele seja.
Hoje nós chamamos isso de Inteligência Artificial Geral (conhecida pela sigla em inglês, AGI). O artigo explicava que:
“Como o projeto de máquinas é uma dessas atividades intelectuais, uma máquina ultrainteligente poderia projetar máquinas ainda melhores; haveria então, sem dúvida, uma 'explosão de inteligência', e a inteligência humana ficaria muito para trás. Assim, a primeira máquina ultrainteligente seria a última invenção que o homem precisaria fazer.”
Diante disso, como ficaria o ser humano? Como pensar seu lugar no mundo, seu futuro, sua dignidade?
Creio que as reflexões de Lennox sobre essas coisas podem nos ajudar. Independente de você ter maior ou menor grau de concordância com a visão de mundo dele, garanto que de alguma forma ela vai ser útil a você.
Você pode ver a palestra completa de Lennox no YouTube (link abaixo). Nesse artigo, trago os argumentos que me pareceram mais importantes e faço algumas contextualizações que julgo serem relevantes.
A nova religião da IA
O que mais me chamou a atenção no vídeo foi que já se começa a propor o surgimento de uma nova Religião a partir da IA. Como escreveu Neil McArthur, Diretor do Centro de Ética Profissional e Aplicada da Universidade de Manitoba no Canadá:
“estamos prestes a testemunhar o nascimento de um novo tipo de religião. Nos próximos anos, ou talvez até em alguns meses, veremos o surgimento de seitas dedicadas à adoração da inteligência artificial. Porque certos sistemas de IA estão começando a exibir o tipo de capacidades geralmente atribuídas a divindades — como imortalidade, onisciência e onipresença. Essas super IAs possuem conectividade onipresente via internet, a função oracular de algo como o ChatGPT para responder praticamente qualquer pergunta, oferecer conselhos de vida e até mesmo ‘escrituras’ quase instantaneamente. Nem têm necessidades ou desejos como os humanos — apenas eletricidade!”
Há muitas tentativas de entender a origem do fenômeno religioso. Aqui me limitarei à seguinte explicação. A religião parece fazer parte de uma dimensão que escapa à dimensão material da vida cotidiana, mas que é igualmente necessária à vida humana.
Ao tratar dessa questão, Robert Bellah se utiliza da distinção feita pelo psicólogo Abraham Maslow que aponta dois tipos de cognição nos seres humanos: “cognição do ser” (being cognition) ou B-cognition e “cognição da deficiência” (deficiency cognition) ou D-cognition.
Esta última pertence ao mundo da vida cotidiana, marcado pela escassez e pela luta pela vida. Sua mola propulsora é uma ansiedade fundamental que nos leva a agir dentro do mundo do trabalho. Neste tipo de cognição, operamos sob o esquema de meios e fins e estamos dentro das restrições de tempo e espaço.
Já na B-cognition, ao invés de manipularmos o mundo, nós participamos dele, ao invés da separação entre sujeito e objeto, experimentamos uma sensação de totalidade. Esse tipo de cognição é um fim em si mesmo e tende a transcender nossa experiência ordinária de tempo e espaço.
O transhumanismo
Essa religião da IA também pode ser lida como transhumanismo, definido como:
o movimento voltado para o uso da tecnologia para o aprimoramento humano nas dimensões social, psicológica e física. Isso pode variar desde próteses até implantes, ou de produtos farmacêuticos até o 'upload' mental.”
Para onde vamos? Para muitos dos cientistas e engenheiros do Vale do Silício, estamos indo em direção à AGI: uma IA que supere a inteligência humana em todos os aspectos, levando como consequência ao surgimento de uma superinteligência e ao chamado transhumanismo.
Aí está o “santo graal” buscado pelos desenvolvedores das IAs de ponta que utilizamos hoje, como OpenAI e Anthropic, cujos CEOs declaram publicamente os seus sonhos de redenção tecnológica.
Com efeito, a proposta do transhumanismo é, na prática, transformar humanos em deuses usando todo tipo de tecnologia, como se houvesse algo errado conosco que só pudesse ser redimido pela integração com as máquinas, ao modo de ciborgues.
Com isso, transformaríamos nossas mentes para que sentimentos e estados mentais negativos fossem definitivamente deixados para trás; nosso corpo físico duraria uma quantidade de tempo muito maior do que acontece hoje e poderíamos até obter a vida eterna fazendo um upload de nossos cérebros em máquinas.
Note que, se você pesquisar na internet, achará várias iniciativas de bilionários do Vale do Silício assim.
Em sua perspectiva cristã, Lennox observa que tudo isso vai diretamente contra a mensagem de aprovação que Deus manifesta aos seres humanos ao tornar-se também humano.
Para ele, o transhumanismo é intrinsecamente errado porque coloca o humano no lugar de Deus — um lugar que ele essencialmente não pode estar. Ao fazer isso, o transhumanismo rejeita frontalmente a perspectiva de salvação cristã dada por Deus por meio de Jesus.
Conclusão
Para cristãos como Lennox, a AGI sugerida por Irving Good, ou mesmo o domínio total alcançado por humanos que controlem o uso da IA, não é o fim da história. Como sabemos, o cristianismo tem sua própria doutrina sobre o final dos tempos.
Independentemente de nossa fé ou visão filosófica, o avanço da IA nos obriga a reavaliar o que significa ser humano e quais limites estamos dispostos a cruzar em nome do progresso.
🔍 Em meio à crescente presença de agentes de IA em nossas vidas, uma nova busca ganha força no mundo corporativo: o reencontro com espiritualidade, propósito e sentido.
Esse movimento, que pode parecer contraditório à lógica tecnológica, está transformando a forma como líderes e profissionais lidam com a automação, a inteligência artificial e o próprio trabalho.
❓Como compreender essa virada? Qual o papel das religiões e da espiritualidade na era dos algoritmos?
Essas são as questões que vamos explorar na próxima Masterclass do Board Technoethics, no dia 30 de junho, às 19h30:
📚 Tema: Propósito Humano na Era dos Algoritmos: Religião, Espiritualidade e IA no Mundo Corporativo
⚠️ Acesso exclusivo para quem assina o Board Technoethics.
💳 R$ 97/mês
📌 Inclui Masterclass mensal, gravação, materiais de apoio e grupo exclusivo no WhatsApp.